Ato lembra mais de 40 crianças mortas em tiroteios no Rio
- 30/03/2018
12h21
- Rio
de Janeiro
Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Protesto na Praia de Copacabana lembra
morte há um ano da menina Maria Eduarda, e de outras 46 crianças vítimas da
violência nos últimos 11 anos (Fernando Frazão/Agência Brasil) Fernando
Frazão/Agência Brasil
Um
ato promovido pela organização não governamental Rio de Paz fez hoje (30) uma
homenagem a 47 crianças até 14 anos que morreram em tiroteios no estado do Rio
de Janeiro, de 2007 a 2018. A manifestação, que foi realizada nas areias da
Praia de Copacabana, coincidiu com o primeiro aniversário da morte de Maria
Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, que foi atingida por uma bala perdida
dentro de sua escola, em Acari.
A
menina estava no ginásio da Escola Municipal Daniel Piza, quando foi atingida
por tiros disparados por um policial militar, que participava de uma operação
na comunidade. Os policiais Fábio de Barros Dias e David Gomes Centeno foram
denunciados por homicídio.
O
processo corre na 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro e os dois respondem em
liberdade, mas precisam comparecer, de tempos em tempos, ao juízo. Segundo a
Polícia Militar, por enquanto, os dois estão executando trabalho
administrativo, ou seja, não estão fazendo trabalho de patrulhamento ou
policiamento de ruas.
“Para
mim é como se tivesse sido ontem. Não vou esquecer nunca a Maria Eduarda, meu
bebê. Ela estava estudando para ser aeromoça e atleta. É muita saudade. Eu
durmo com a Maria Eduarda. Eu levanto com ela falando: 'mamãe, está na hora do
colégio'. Minha filha não estava portando fuzil, minha filha não tava no baile
dançando, minha filha estava dentro de uma escola. Os policiais chegaram e
mataram o sonho da Maria Eduarda”, disse a mãe, Rosilene Alves Ferreira.
A
família de Maria Eduarda pede ainda, na Justiça, uma indenização ao Estado. Os
parentes também querem apoio psicológico para superar o trauma.
A
Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos
(SEDHMI) ofereceu assistência jurídica à família da vítima, junto com a
Defensoria Pública do Estado, mas, segundo o governo fluminense, os parentes
optaram por utilizar os serviços de um advogado particular. “Na época, a pasta
ainda ofereceu assistência jurídica e social aos parentes da vítima,
entretanto, não manifestaram interesse. A SEDHMI reforça a disponibilidade em
oferecer apoio psicológico, jurídico e social”, diz a nota.
O
protesto
O
ato da ONG Rio de Paz envolveu a colocação de varais com placas que traziam o
nome de cada uma das 47 vítimas. Além disso, havia pertences das vítimas e
manchas vermelhas na areia, que simbolizavam o sangue das crianças.
Durante
o protesto, dezenas de colegas de escola de Maria Eduarda fizeram um minuto de
silêncio em homenagem às crianças. Outra das vítimas homenageadas foi o menino
Jeremias Moraes da Silva, morto, segundo a família, por policiais militares
dentro da favela Nova Holanda.
“A
gente vê um caveirão [veículo blindado da PM] entrando numa comunidade, a gente
já sai correndo, porque sabe que ele vai atirar. A criança estava de costas na
porta de uma irmã da igreja. Por que a polícia atirou? Não consigo ter essa
resposta. Ele não estava armado, não estava com drogas, não estava com nada. [A
polícia] atirou por quê? ”, disse a mãe do menino, Vânia Moraes da Silva.
Segundo
o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, muitas dessas mortes
ocorreram em confrontos envolvendo a polícia. Segundo ele, as autoridades
públicas não podem deixar os criminosos agirem impunemente, mas o trabalho de
segurança pública deveria ser feito com mais inteligência, de forma a não fazer
vítimas inocentes.
“Ninguém
quer bandido solto, aterrorizando, matando. Mas ninguém quer que uma criança
pague com o seu sangue o preço de uma pacificação que nunca chega”, disse.
Por
meio de nota, a Secretaria Estadual de Segurança informou que publicou, em
agosto do ano passado no Diário Oficial do Estado, uma instrução
que estabelece diretrizes para ações em localidades onde se presume que possa
ocorrer elevado risco de confronto armado com criminosos. “As diretrizes foram
elaboradas por um grupo de trabalho instituído em julho de
2017 e possui como primeiro princípio a preservação da vida dos moradores
dessas áreas e dos policiais”.
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