sábado, 30 de junho de 2018

O Brasil mais humano


Brasil reconhece condição de apátrida pela primeira vez na história

Publicado em 25/06/2018 - 20:38

Por Pedro Rafael Vilela - Repórter da Agência Brasil Brasília





Pela primeira vez em sua história, o governo brasileiro reconheceu a condição de apátrida (indivíduo sem nacionalidade reconhecida) de duas pessoas que vivem no país. Maha e Souad Mamo, que moram no Brasil há quatro anos como refugiadas, são as primeiras apátridas reconhecidas pelo Estado brasileiro a partir da nova Lei de Migração (Lei nº 13.445), que entrou em vigor em 2017. 

O ato foi assinado na noite desta segunda-feira (25) pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, em cerimônia realizada em Brasília, como evento de abertura da Semana Nacional do Refugiado. A medida foi possível porque a nova legislação passou a prever essa desginação, que antes não existia no ordenamento jurídico do país. 
Para Torquato Jardim, o deslocamento forçado é uma tragéria maior que a Segunda Guerra Mundial Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

De acordo com a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo não têm nacionalidade. Por isso, são consideradas apátridas. Por falta de uma certidão de nascimento e demais outros documentos de identidade, muitas vezes elas são impedidas de frequentar escola, consultar um médico, trabalhar, abrir uma conta bancária, comprar uma casa ou se casar.

Naturalização

É o caso de Maha e Souad, atualmente com 30 e 32 anos. Nascidas no Líbano, elas não puderam ser registradas no país, porque lá se exige que os nascidos sejam filhos de pais e mães libaneses. Seus pais, de nacionalidade síria, também não puderam registrá-las no país de origem. Na Síria, crianças só são registradas por pais oficialmente casados, o que não era o caso deles. 

Com a condição de apátridas reconhecida pelo governo brasileiro, as irmãs Maha e Souad Mamo agora poderão requerer a naturalização simplificada, um procedimento disponível especificamente para quem não tem nacionalidade.

"São pessoas que perderam a família, perderam qualquer documentação de referência patrimonial, histórica ou geográfica. São reconhecidas pelo país que as acolhem", afirmou o ministro Torquato Jardim, pouco antes da cerimônia de assinatura do reconhecimento das duas irmãs.

Lei de Migração

Ele lembrou que, somente no ano passado, mais de 68 milhões de pessoas em todo mundo estavam em situação de deslocamento forçado. "Uma tragédia maior que a Segunda Guerra Mundial", disse o ministro. 

Segundo Torquato Jardim, 29% dos refugiados no Brasil são mulheres e outros 20% são de adolescentes com menos de 17 anos. No total, o Brasil tem 85 mil solicitações de refúgio em análise.

A nova Lei de Migração estabelece um procedimento mais complexo para o reconhecimento de refugiados, mas facilitou a entrada no país de imigrantes convencionais de outros países, que podem obter visto de entrada e documentos como carteira de trabalho. Isso vem ocorrendo com os venezuelanos que têm chegado ao Brasil nos últimos anos. 

Edição: Armando Cardoso




segunda-feira, 18 de junho de 2018

Pelo fim das desigualdades


Cármen Lúcia e Raquel Dodge cobram fim das desigualdades de gênero

As líderes abriram Conferência Nacional das Procuradoras da República

Publicado em 15/06/2018 - 16:09

Por Helena Martins - Repórter da Agência Brasil Brasília

Dirigentes de duas das principais instituições brasileiras, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, e a procuradora-geral da República (PGR), Raquel Dodge, defenderam a ampliação da participação das mulheres nas posições de poder e o fim das desigualdades de gênero no Brasil. Ambas participaram da abertura da 1ª Conferência Nacional das Procuradoras da República, na tarde desta sexta-feira (15), em Brasília.


A presidente do STF, Cármen Lúcia, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, na abertura da 1ª Conferência Nacional das Procuradoras da República (Wilson Dias/Agência Brasil)

A presidente do STF avaliou que “o Brasil tem como um dos principais problemas a serem enfrentados o de superar as desigualdades”. Relembrando a elaboração da Constituição Federal, que em outubro completará 30 anos, Cármen Lúcia afirmou que, devido à marcante desigualdade e a existência de preconceitos contra mulheres, a Carta Magna destaca o princípio da igualdade e aponta expressamente que homens e mulheres são iguais perante a lei.

Ao contrário do que consta na norma, contudo, citou que o Brasil ainda convive com atos de violência praticados contra mulheres pelo fato de serem mulheres e também com um maior número de homens eleitos para os cargos legislativos, embora as mulheres sejam a maior parte da população. “Todas essas desigualdades são apenas a expressão de uma sociedade que ainda não aprendeu a igualar”, afirmou.

Políticas afirmativas

A ampliação da participação feminina também foi defendida por Raquel Dodge, primeira mulher a assumir a Procuradoria-Geral da República. Para tanto, a procuradora-geral citou a necessidade de políticas afirmativas, a exemplo da destinação de, no mínimo, 30% do Fundo Partidário para candidaturas de mulheres pelo STF, regra que já valerá nas eleições deste ano. Na legislatura atual, parlamentares mulheres ocupam apenas 10% das vagas na Câmara dos Deputados.

Além da representação na política, Raquel Dodge avaliou que, apesar de avanços conquistados ao longo do último século, como o direito de votar e ser votada e o de gerir o próprio patrimônio após o casamento, “os direitos das mulheres ainda estão sendo construídos, e isso é preciso reconhecer e declarar”. Diante desse quadro, a procuradora-geral se comprometeu a “reivindicar que homens e mulheres sejam reconhecidos e tratados como iguais, em beneficio de todos”.

A 1ª Conferência Nacional das Procuradoras da República conta com a participação de mulheres que chefiam o Ministério Público da França, do Paraguai e de Portugal, parlamentares e cerca de 100 integrantes dos três níveis da carreira. Hoje e amanhã, as procuradoras debaterão ingresso, permanência e movimentação na carreira, condições de trabalho e empoderamento, liderança e participação político institucional.



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Edição: Davi Oliveira