sábado, 23 de maio de 2015

August Comte e seu pensamento estruturante e modelador

A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos


O Ordem e Progresso de nossa bandeia vem desse conceito de organização social. No Brasil, juntando a escravidão e a exploração do estado e dos pobres pelas elites, deu neste modelo: Uma nação com capacidades mas ainda sem grandes realizações.

1 APRESENTAÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma síntese sobre o positivismo e sobre a obra de Auguste Comte, considerado o ‘pai’ desse movimento filosófico, que surgiu no século XIX. Naquela época, as descobertas científicas e os avanços técnicos faziam crer que o homem podia dominar a natureza. No entanto, o positivismo opôs às abstrações da teologia e da metafísica, sendo, portanto, contrário àquele pensamento.
Em seu aspecto crítico, o positivismo repudia toda especulação em torno da natureza da realidade, que afirme uma ordem transcendental não-suscetível de demonstração pelos dados da experiência.
No Brasil, esse movimento filosófico contribuiu para redefinir as idéias políticas que alimentaram as campanhas abolicionistas e anti-monarquistas, fazendo que a República se consolidasse como forma de governo.
Graças à filosofia positivista, a educação brasileira conseguiu romper com o modelo religioso que perdurava a mais de três séculos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 AUGUSTE COMTE E O POSITIVISMO

O termo ‘positivismo’ surgiu na história da filosofia ocidental no século XIX e foi cunhado por Auguste Comte para designar uma teoria do conhecimento antigo (GOMIDE, 1999)
Informa Silvino (2007), que o positivismo foi um movimento de pensamento que dominou parte da cultura européia, influenciando a filosofia, as artes, a literatura, bem como a educação.
De acordo com Borges (2003), o positivismo como filosofia surgiu ligado às transformações da sociedade européia ocidental, na implantação de sua industrialização.
Essa influência se prolongou até o final da segunda década do século XX. Nesse período, acrescenta ainda Silvino (2007), que predominava a ideia de que era possível que a ciência era elaborasse instrumentos para dominar todos os problemas da humanidade, até porque o modo de produção era fortemente influenciado por ela.
O positivismo enquanto corrente filosófica influenciou diferentes produções humanas. Por outro lado:

[...] foi do positivismo social de Comte que fluiu uma primeira vertente ideológica voltada para retificar o capitalismo mediante propostas de integração das classes a ser cumprida por uma vigilante administração pública dos conflitos. A sua inspiração profunda é ética e, tanto em Saint- Simon, quanto em Comte, evoluiu para um ideal de ordem distributivista (BOSI, 1992, p. 282).

Considerado a maior expressão do pensamento positivista, Comte buscou um novo ponto de vista sobre a ciência, a política e a religião, que abrisse o caminho para uma organização política e que estivesse à altura da capacidade industrial e científica das sociedades modernas.
Triviños (1987) informa que o positivismo, nas ciências sociais, iniciou propondo um método para analisar o comportamento social semelhante a uma ciência analítico-normativa, propondo uma separação entre conhecimento e interesse.
Acrescenta ainda Triviños (1987), que o positivismo tem como base teórica os três pontos seguintes:
a) todo conhecimento do mundo material decorre dos dados ‘positivos’ da experiência, e é somente a eles que o investigador deve ater-se;
a) existe um âmbito puramente formal, no qual se relacionam as idéias, que é o da lógica pura e da matemática;
b) todo conhecimento dito ‘transcendente’ - metafísica, teologia e especulação acrítica - que se situa além de qualquer possibilidade de verificação prática, deve ser descartado.
O Positivismo dominou uma parte significativa da cultura européia tanto no âmbito filosófico como político e pedagógico. Por sua vez, Comte afirmava ser necessário estabelecer uma relação fundamental entre a ciência e a técnica e esse pensamento pendurou por várias décadas.
Apesar que ter influencia por décadas o pensamento humano, o positivismo perdeu sua importância na pesquisa das ciências sociais, face as transformações registrada no contexto acadêmico (TRIVIÑOS, 1987).

2.2 A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL

Na segunda metade do século XIX, todos os setores do pensamento humano era influência pelo positivismo, direta ou indiretamente. Essa época, o Brasil vivia um momento de instabilidade política, motivada pelas campanhas abolicionistas e anti-monarquistas, sendo, portanto, um cenário perfeito para a difusão das idéias positivistas.
A influência positivista, que foi preponderante nessa fase de renovação das idéias filosóficas no Brasil, começou a estender-se, a princípio, por meio de brasileiros que estudaram na França, alguns discípulos do próprio Comte.
De acordo com Isakandar e Leal (2002, p. 4)

O positivismo de Comte chegou ao Brasil em meados do século XIX. As idéias positivistas encontraram boa receptividade entre muitos oficiais do exército. Com um currículo voltado para as ciências exatas e para a engenharia, a educação se distancia da tradição humanista e acadêmica, havendo uma certa aceitação das formas de disciplina típicas do positivismo. As palavras ‘ordem e progresso’, que fazem parte da bandeira brasileira indicam claramente a influência positivista.

A maior parte dos líderes republicanos era positivista e essa situação refletiu na estruturação do novo regime, onde, nomes como Benjamin Constant ocuparam posições de destaque. Logo no início do período republicano, sob a influência do positivismo, Constant realizou uma importante reforma educacional, rompendo com o tradicional ensino religioso, que durante mais de três séculos caracterizou a educação brasileira.
À semelhança do que ocorreu em outras partes do mundo, o positivismo perdeu espaço no Brasil. No entanto, sua influência é novamente notada na década de 1970, quando o país era governado pelos militares.
Nesse momento da história, surgiu a escola tecnicista que teve uma presença marcante e foi posteriormente bastante criticada por reducionista e aceitar a ciência como o único conhecimento (ISKANDAR; LEAL, 2002).

3 CONCLUSÃO

O positivismo tem raízes ideológicas em diversos movimentos que tiveram lugar no século XVIII, sendo, portanto, produto direto de sua época. Comte tentou a síntese dos conhecimentos positivos de seu tempo. Sua intenção era produzir uma reforma social, a partir das ciências positivas.
Comte nunca se inclinou a favor de um empirismo radical e situou o positivismo entre o empirismo, afirmando que saber científico depende tanto de dados empíricos como de elaboração racional.
No Brasil, o positivismo teve uma importância especial para a evolução das idéias políticas, que serviram de preparação teórica à implantação da república. Foi importante a influência intelectual e política de Benjamin Constant, positivista e republicano.
É importante destacar que o no Brasil, o positivismo passou de ciência a doutrina de influência geral e foi defendida por muitos estudiosos.

4 REFERÊNCIAS


BORGES, V. P. O que é história. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003. Coleção primeiros passos.

BOSI, A. A dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.


sábado, 2 de maio de 2015

Entendo o poder relacional e o pequeno poder de impedir, vetar.

MICHEL FOUCAULT E A
“MICROFÍSICA DO PODER”


Para explicar porque, em diversas situações quem deveria resolver, acaba gerando novo problema. Um porteiro, um policial, um atendente. Impedem, restringe e joga leis e educação no lixo. TODOS deveriam ler esta obra espetacular da filosofia francesa, global. 








1.      O poder

           O poder deve ser analisado como algo que circula, que funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como riqueza ou bem. O poder funciona e se exerce em rede. Os indivíduos, em suas malhas, exercem o poder e sofrem sua ação. Cada um de nós é, no fundo, titular de um certo poder e, por isso, veicula o poder.
           Os poderes periféricos e moleculares não foram confiscados e absorvidos pelo Estado; não são necessariamente criados pelo Estado. (Poderes periféricos e moleculares: poder exercido por indivíduos, grupos, empresas, cientistas, comunicadores, etc...). Os poderes se exercem em níveis variados e em pontos diferentes da rede social e neste complexo os micro-poderes existem integrados ou não ao Estado.
           É preciso dar conta deste nível molecular de exercício do poder sem partir do centro para a periferia, do macro para o micro.

1.1. Relações de poder

         Os poderes não estão localizados em nenhum ponto específico da estrutura social. Funcionam como uma rede de dispositivos ou mecanismos (tecnologia do corpo, olhar, disciplina) que nada ou ninguém escapa.
         O poder não é algo que se detém como uma coisa, como uma propriedade, que se possui ou não. Não existe de um lado os que têm o poder e de outro aqueles que se encontram dele apartados. Rigorosamente falando, o poder não existe; existem sim práticas ou relações de poder. O poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona.
          O poder não é substancialmente identificado com um indivíduo que o possuiria; ele torna-se uma maquinaria de que ninguém é titular. Logicamente nesta máquina ninguém ocupa o mesmo lugar; alguns lugares são preponderantes e permitem produzir efeitos de supremacia. De modo que eles, podem assegurar uma dominação de classe, na medida em que dissociam o poder do domínio individual.

1.2 O poder exercido como disputa e luta

          Onde há poder há resistência, não existe propriamente o lugar de resistência, mas pontos móveis e transitórios que também se distribuem por toda a estrutura social.
          A guerra é luta, afrontamento, relação de força, situação estratégica. Não é um lugar que se ocupa, nem um objeto que se possui. Ele se exerce, se disputa. Nessa disputa ou se ganha ou se perde.

1.3 Concepções negativas e positiva do poder

         Concepção negativa do poder: vinculado ao Estado como aparelho repressivo que castiga para dominar.
         Concepção positiva do poder: direciona a vontade para a satisfação de desejos e prazeres. O capitalismo não se manteria se fosse exclusivamente baseada na repressão.

1.4 Objeto do poder: o corpo

         O poder atinge a realidade concreta dos indivíduos: o corpo.
         Os procedimentos técnicos do poder sobre o corpo são: controle detalhado e minucioso de gestos, atitudes, comportamentos, hábitos e discursos.
         É preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ele exclui, ele reprime, ele recalca, ele censura, etc. O poder, em sua positividade, tem como alvo o corpo humano não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo.
         O corpo só se torna força de trabalho quando trabalhado pelo sistema político de dominação característico do poder disciplinar.

2.      A disciplina

         A disciplina visa gerir a vida dos homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e viável utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades.
         Objetivo econômico e político: aumento do efeito de seu trabalho, isto é, tornar os homens força de trabalho dando-lhes uma utilidade econômica máxima; diminuição de sua capacidade de revolta, de resistência, de luta, de insurreição contra as ordens do poder, neutralização dos efeitos de contra-poder, isto é, tornar os homens dóceis politicamente.

2.1    As quatro fases da disciplina

a)      Organização do espaço: é uma técnica de distribuição dos indivíduos através da inserção dos corpos em um espaço individualizado, classificatório, combinatório. Isola em um espaço fechado, esquadrinhado, hierarquizado, capaz de desempenhar funções diferentes segundo o objetivo específico que dele se exige.
b)      Controle do tempo: estabelece uma sujeição do corpo ao tempo, com o objetivo de produzir o máximo de rapidez e o máximo de eficácia.
c)      Vigilância: é um de seus principais instrumentos de controle; o olhar que observa para controlar.
d)      Registro contínuo de conhecimento: anota e transfere informações, - à partir de observações sobre os indivíduos em suas atitudes, ações, falas, etc, - para os pontos mais altos da hierarquia do poder. Nenhum detalhe, acontecimento ou elemento disciplinar escapa a esse saber.

3.      O olho do poder

          A disciplina é uma técnica de poder que implica uma vigilância perpétua e constante dos indivíduos. Não basta olhá-los às vezes ou ver se o que fizeram é conforme à regra. É preciso vigiá-los durante todo o tempo da atividade e submetê-los a uma perpétua pirâmide (hierarquia) de olhares.
          É assim que no exército aparecem sistemas de graus que vão, sem interrupção do general-chefe até o ínfimo soldado, como também os sistemas de inspeção, revista, paradas, desfiles, etc., que permitem que cada indivíduo seja observando permanentemente.

4.      A construção da verdade pelo poder

4.1 O poder é produtor de individualização

          O poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, ele o fabrica. O indivíduo não é outro do poder, realidade exterior, que é por ele anulado; é um de seus mais importantes efeitos.
          A ação sobre o corpo, o adestramento do gesto, a regulação do comportamento, a normalização do prazer, a interpretação do discurso (fala), com o objetivo de separar, comparar, distribuir, avaliar, hierarquizar, tudo isso faz com que apareça o homem individualizado como produção do poder e objeto de saber das ciências humanas.
          O poder é produtor de individualidade. O indivíduo é uma produção do poder e do saber. Não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder.

           4.2 Exemplos concretos

a)      Século XVIII → nasce a prisão – isolamento celular – total ou parcial.
b)      Hospício → produz o louco como doente mental, personagem individualizado a partir da instauração de relações disciplinares de poder.
c)      Século XIX → organização de paróquias → institucionaliza o exame de consciência e da direção espiritual e a reorganização do sacramento da confissão, desde o século XVI, aparecem como importantes dispositivos de individualização.

            4.3 A verdade sobre o indivíduo produzido pelo poder

            A disciplina é o conjunto de técnicas pelas quais os sistemas de poder vão ter por alvo e resultado os indivíduos em sua singularidade. Para individualizar a pessoa, utiliza-se do exame, que é a vigilância permanente, classificatória, que permite distribuir os indivíduos, julgá-los, medi-los, localizá-los para utilizá-los ao máximo.
          Tudo o que se refere à própria pessoa é a hierarquia do poder que constrói a verdade sobre o indivíduo, o qual não tem participação na construção da verdade sobre si mesmo. Jamais é consultado, interrogado para dizer sobre si mesmo.
           Às portas fechadas, entre quatro paredes, aqueles que detêm o poder definem quem é o indivíduo através de julgamentos, classificações, medições a fim de individualizá-lo e assim direcionar sua convicção mental a realizar ações, assumir atitudes e padrões mentais de pensamentos para que seja utilizado ao máximo pela máquina do poder.

BIBLIOGRAFIA


FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 11ª ed., Rio de Janeiro: Graal, 1997.

MICHEL FOUCAULT E A “MICROFÍSICA DO PODER”