País mantém desde
2011 diferença de
Aprendizagem
entre ricos e pobres
Disparidade chega a
ser de 5 vezes, segundo nível socioeconômico
Publicado em 21/03/2019 - 09:28
Por Mariana Tokarnia - Repórter
da Agência Brasil Brasília
No
Brasil, enquanto 83% dos estudantes mais ricos saem da escola pública tendo
aprendido o adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio, entre os
estudantes mais pobres, essa porcentagem é 17%. Em matemática, 63,6% dos alunos
mais ricos aprenderam o adequado e apenas 3,1% dos mais pobres saem da escola
sabendo o mínimo considerado suficiente na disciplina. Os dados são do Todos
pela Educação (TPE), organização social, sem fins lucrativos.
A
entidade analisou os microdados do Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) 2017 e mostrou que há diferença grande e constante, desde 2011, entre o
desempenho dos mais ricos e dos mais pobres em todos os níveis analisados, no
5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio. A disparidade
entre as porcentagens de estudantes que aprendem o adequado chega a ser quase
cinco vezes maior entre aqueles com maior nível socioeconômico e os com menor
nível.
"A
educação, que poderia ser uma das principais ferramentas para diminuir a
desigualdade de aprendizagem não tem conseguido fazer isso de maneira
consistente no Brasil", diz o diretor de Políticas Educacionais do TPE,
Olavo Nogueira Filho. "A gente está avançando na média brasileira, mas
está mantendo um alto grau de desigualdade entre alunos de nível socioeconômico
mais alto e mais baixo. Estamos melhorando sem conseguir diminuir esse
resultado entre mais ricos e mais pobres", avalia.
O Saeb
avalia estudantes quanto aos conhecimentos de língua portuguesa e matemática e
é aplicado de dois em dois anos. A avaliação é de responsabilidade do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que
classifica os estudantes em seis grupos, considerando o nível socioeconômico.
O grupo 1
reúne os estudantes com o menor poder aquisitivo. São, em maior parte, estudantes
com renda familiar mensal de até um salário mínimo e que têm, em casa, bens
elementares, como uma geladeira e uma televisão, sem máquina de lavar roupa ou
computador. Os pais ou responsáveis têm formação até o 5º ano do ensino
fundamental ou inferior.
Na outra
ponta, está o grupo 6, com estudantes com renda familiar mensal de sete
salários mínimos ou mais, cujos pais ou responsáveis completaram a faculdade e
que tem em casa três ou mais televisores, dois ou mais computadores, entre
outros bens.
A diferença
é constatada desde o 5º ano do ensino fundamental, quando 90,4% dos mais ricos
aprendem o adequado em língua portuguesa e 83,9%, em matemática e apenas 26,3%
dos mais pobres aprendem o adequado em português e 18,1%, em matemática.
De acordo
com Nogueira Filho, a escola pública não está cumprindo um de seus principais
potenciais: reduzir desigualdades. "Para fazer isso, é preciso ter uma
política educacional que se preocupe com essa questão. Uma política educacional
que se traduza em mais recursos para quem tem maior desafio", defende.
De acordo
com o diretor, ocorre o contrário no país. “Os municípios mais vulneráveis, em
geral, são os que têm menor investimento por aluno quando comparados com
regiões de nível socioeconômico mais elevado".
Aprendizagem adequada
De acordo
com o levantamento do TPE, em média, considerando juntos todos os níveis
socioeconômicos, houve melhora na aprendizagem no país, no ensino fundamental.
No ensino médio, há praticamente estagnação desde 2001.
O maior
salto foi no 5º ano do ensino fundamental. Em 2001, 23,7% dos estudantes
aprendiam o adequado em língua portuguesa e 14,9%, em matemática. Essas
porcentagens chegaram a 60,7% e a 48,9%, respectivamente, em 2017.
No final
do ensino médio, em 2001, 25,8% dos jovens deixavam a escola sabendo o mínimo
adequado em português e 11,6%, em matemática. Em 2017, essas porcentagens
passaram para 29,1% em língua portuguesa e reduziram para 9,1% em
matemática.
O TPE
considera como aprendizagem adequada estudantes que obtiveram pelo menos, em
língua portuguesa, 200 pontos no 5º ano do ensino fundamental, 275 no 9º ano e
300 no final do ensino médio. Em matemática, é necessário tirar pelo menos 225
pontos no 5º ano, 300 pontos no 9º ano e 350 pontos no 3º ano do ensino médio.
As
pontuações foram definidas por um conjunto de especialistas que buscou como
referência, inclusive, o desempenho de estudantes de nível semelhante em outros
países.
Seguindo
os níveis propostos pelo Inep, essas pontuações significam que os estudantes
devem estar pelo menos no nível 5 de 10 níveis em matemática e no nível 4 de 9
níveis em língua portuguesa, no 5º ano; no nível 4 de 8 níveis em português e 5
de 9 níveis em matemática, no 9º ano; e no 6 de 10 em matemática e nível 4 de 8
níveis em língua portuguesa, no 3º ano do ensino médio.
Ministério da Educação
No ano
passado, o Ministério da Educação divulgou, pela primeira vez, o nível que
considera adequado para cada etapa. Os níveis considerados são mais rígidos do
que os definidos pelo Todos pela Educação, considerando adequado apenas o nível
7 em ambas disciplinas. A métrica foi questionada por especialistas.
Pelo
critério do MEC, apenas 1,62% dos estudantes obtiveram o mínimo adequado em
língua portuguesa ao final do ensino médio e 4,52%, o mínimo em matemática, em
2017.
Edição: Talita Cavalcante
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