Futebol
concentra 90% dos casos de discriminação no esporte
Relatório mostra que 69 atletas foram hostilizados
no país em 2017
Publicado
em 29/11/2018 - 20:16
Por Letycia
Bond – Repórter da Agência Brasil Brasília
Em estádios e quadras de todo o
país, ao menos 69 profissionais da cadeia esportiva foram alvo de
discriminação racial, LGBTIfobia, machismo e xenofobia em 2017. Também no
ano passado, oito atletas brasileiros passaram por algum tipo de hostilidade ao
participar de competições no exterior.
Relatório mostra que maioria dos casos de discriminação ocorre no
futebol - Reprodução
Estes dados constam do Relatório
Anual da Discriminação Racial no Futebol, fruto de uma parceria entre
pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Observatório
da Discriminação Racial no Futebol. Elaborado com base em
reportagens da imprensa nacional e internacional – às vezes enviadas pelas
redes sociais por colaboradores voluntários –-, o documento, que está na quarta
edição, está sendo lançado oficialmente hoje (29), em Porto Alegre.
Para Marcelo Carvalho, criador do observatório, as conclusões do estudo tiram o campo de futebol do pódio de espaços que disseminam a tolerância, já que este se destacou como o principal cenário das segregações, vinculando-se a 61 (88,4%) dos casos detectados no Brasil.
Foi por desconfiar de que o respeito à diversidade existe, muitas vezes, somente no plano da aparência que o administrador de empresas decidiu investigar a fundo a questão. "O que me chamou a atenção foi a falácia de que o futebol é o espaço mais democrático da sociedade brasileira, onde brancos e negros têm as mesmas oportunidades. Parando para analisar, vi que não é verdade, porque dentro dos clubes não tem negros como técnicos, nem em cargos de comando", afirmou.
Para Marcelo Carvalho, criador do observatório, as conclusões do estudo tiram o campo de futebol do pódio de espaços que disseminam a tolerância, já que este se destacou como o principal cenário das segregações, vinculando-se a 61 (88,4%) dos casos detectados no Brasil.
Foi por desconfiar de que o respeito à diversidade existe, muitas vezes, somente no plano da aparência que o administrador de empresas decidiu investigar a fundo a questão. "O que me chamou a atenção foi a falácia de que o futebol é o espaço mais democrático da sociedade brasileira, onde brancos e negros têm as mesmas oportunidades. Parando para analisar, vi que não é verdade, porque dentro dos clubes não tem negros como técnicos, nem em cargos de comando", afirmou.
Segundo Carvalho, a alta
incidência de atos discriminatórios no futebol talvez se explique pela ampla
cobertura midiática reservada a esta modalidade esportiva. Reconhecendo que
isso pode se refletir nos resultados do levantamento, já que a metodologia
dos pesquisadores abrange a análise de notícias, ele diz que há um ponto
positivo na atenção despendida ao futebol. "Fala-se, em 95% do tempo,
sobre futebol. Por causa do status que tem, tanto de mídia como
econômico. E acaba que ele é mais vigiado,"
De acordo com o relatório, 43 das
ocorrências em estádios nacionais envolviam racismo ou injúria racial; 10
a LGBTfobia; cinco reproduziam comportamentos machistas e três tinham como pano de fundo a
xenofobia. Vinte e nove crimes relativos ocorreram em estádios, 11 na
internet e três em outros espaços.
Regionalidade
Dados do relatório mostram que o Rio Grande do
Sul, pelo terceiro ano seguido, concentra a maioria dos casos de racismo
ocorridos em estádios. No ano passado, ocorreram em arenas gaúchas dez dos
29 casos de racismo, número quase três vezes maior do que o registrado nos
estados do Rio de Janeiro e da Bahia, com três episódios, cada um.
Os números do levantamento mostram a tendência de
se espalhar o preconceito pelo país, uma vez que Bahia, Mato Grosso e Amazonas,
que não constavam da listagem de 2016, apareceram, na do ano passado. Por outro
lado, em 2017, não houve registros no Paraná, em Santa Catarina e em
Pernambuco, que figuravam no relatório de 2016.
Embora admita que os jornais têm desempenhado papel
importante, Marcelo Carvalho disse que estes erram, por vezes, ao não
deixar claro que o ofensor cometeu um crime, podendo auxiliar ainda mais na
tipificação das violações. "Muitas vezes, é difícil de se entender que foi
cometido um crime. Outro ponto é falar muito do fato e pouco das
punições", acrescentou.
Justiça
Há 15 anos, está em vigor no Brasil o Código
Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que subsidia órgãos da Justiça Desportiva
na apreciação dos casos. Conforme destaca Carvalho, aspecto também mencionado
no relatório, há casos em que o jogador é punido pelo crime e o clube ao qual
pertence é absolvido, quando deveria responder solidariamente.
A justa tipificação também é relevante
porque impede outras formas de minimização do crime e até mesmo a
subnotificação desse tipo de prática.
"Como o tribunal julga, ele absolve o clube da questão, mas pune o clube pela violência. Mas a violência foi em decorrência da homofobia. Isso me chama muito a atenção. Porque, afinal, qual é a preparação de quem está jogando essas coisas, não é?", questionou Carvalho.
Para ele, a responsabilidade dos times deve ir além de campanhas restritas a datas como o Dia da Abolição da Escravatura e o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrados em 13 de maio e 20 de novembro.
"Como o tribunal julga, ele absolve o clube da questão, mas pune o clube pela violência. Mas a violência foi em decorrência da homofobia. Isso me chama muito a atenção. Porque, afinal, qual é a preparação de quem está jogando essas coisas, não é?", questionou Carvalho.
Para ele, a responsabilidade dos times deve ir além de campanhas restritas a datas como o Dia da Abolição da Escravatura e o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrados em 13 de maio e 20 de novembro.
Edição: Nádia
Franco